Era noite, eu lembro bem.
Pássaros caíam, estrebuchando,
grilos em silêncio absoluto
Era uma noite muda.
Estrelas piscavam em morse
nas poças escuras do chão estrelado e frio
que pisávamos com medo
e nada entendíamos.
Nas paredes, impregnando-as,
as dores da família, seus rancores,
desejos, dissabores, vícios;
cada tijolo encharcado de mágoa,
inveja e vontades sem potência;
o rejunte tingido de lodo e limo
e sonhos não vingados, sonhos-fungo;
rachaduras prenhes de saudades
e insuspeitadas possibilidades.
A casa, às escuras, flutuava no vazio dos olhos
pousados, como andorinhas úmidas,
num horizonte que se afastava lentamente
sob o negrume daquela noite triste
arrastando, em silêncio, os pássaros mortos pelo chão.
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