Não durmamos
Não,
não nos deixemos inebriar
pelo sono mau
Não
Abramos os olhos para a noite
escura e tudo enxergaremos
Sim
Vamos, sem medo, sem pressa,
ofuscarmo-nos com toda a possibilidade
de sermos felizes e despertos
e atentos,
pois a felicidade é, mesmo
tristes, sabermos seus limites
seu alcance, seu fôlego e a
dimensão de tudo isso.
Vem, eu te convido.
Há os felizes que dormem o
sono dos mansos
e se embebedam com o vinho da
auto-suficiência
escorregam feito caracóis, lentos
e lúbricos, em torno de umbigos enormes.
Não os invejemos, mas lamentemos
a formidável sorte
desses ébrios estúpidos que
confundem felicidade com facilidade
e cegos seguem com sorrisos falsamente sinceros.
Acordemos todos e percebamos
o quão tristes estamos
– não somos! -
Quando a felicidade que temos
é apenas nossa
Quando o sorriso que trazemos
não se expande e, murcho, amarela na raiz
Quando o que nos faz vibrar
não tange aqueles corações que seguem mudos
Quando a brisa que nos bafeja
não refresca o corpo irmão
Quando os anjos que nos
cantam olvidaram outros espíritos
Quando somos sós e sós e sós
e não partilhamos o raro instante
e nos deixamos tentar pela
linha reta dessa vida tortuosa e vária.
somos tristes.
Não existe felicidade
individual se estamos despertos
Mas tampouco é felicidade
aquela que a noite do mal alimenta e entorpece
Vamos, não tema, vem
depressa...corre!
Não durmamos, pois o carro da
história não espera e nem ampara os que dormem
E não te quero ver sumir no
horizonte
quando a felicidade apontar no sem-fim dos trilhos.