sexta-feira, 17 de abril de 2015

Do amor e seu alimento





















Cansei de amar
de amar o próximo e o distante
Aprendi que o amor é um sacrifício dispensável
Muito mais que sacerdócio,
amar o amor é o tênue vício da esperança
do inalcançável instante de estar próximo
Cansei de estar
amando o ausente no presente
e assim, sempre distante,
o meu desejo inabalável
eternamente insaciável, insaciado.

Sim, são ridículas todas as cartas de amor
por que o amor, ele sim, ridículo,
estende-se em cada adjetivo
como uma víbora ao sol da linguagem
Desaparece na lassidão dos verbos
atado em cordas que não se rompem
como um Hamlet condenado a não agir
movido pela crença nos fantasmas
O amor é esse querer ser e nunca sendo
Segue sempre só querendo
E sendo amor, sendo ridículo,
Pura invenção.
Cansei, cansei
O amor que vá pastar noutro gramado
Meu coração é terra devastada.