Meio
dia na cidade limpa e seca
monumento
de concreto em genuflexão ante a beleza
a eternidade
pétrea logo ali, na linha lábio
de
Deus.
A
nave de cristal e aço sobrevoa as fomes
grandiosas
fomes sempre saciadas em
plástico:
copo e prato e talher
no
Core, na Stephen, na 17ª, no Chinook, em Cross Iron
Plástico:
garfo, faca e o peito da mulher
em
Eau Claire, Sunnyside, na Kensington Road
Plástico:
sacos, caixas, flores a recolher
em
plásticos.
E
o sol frio de Calgary iluminando a acidez do curry
saboreado,
em silêncio circunspecto, pela indiana e seu marido afegão
O
frango, preparado por mãos chinesas,
banhado
em maple syrup, honey and garlic, desfila
nos
pratos de plástico, enfeitado por brócolis,
a
19 dólares e 90 cents
e
sofre a espetada do garfo de plástico, o corte da faca de plástico,
e o
dente dourado do redneck que anseia Stampede
no
verão e Flames por todo inverno.
O
vento, enovelando-se na vermelha Peace Bridge,
corta
as avenidas a partir do Bow
e passa
pelas skyways muito limpas e aquecidas
que,
suspensas sobre as ossadas de esquecidos blackfoots,
parece
não perceber que o
plástico,
ao fim do dia, aos milhares
aos
milhões, aos bilhões, repousará em algum canto
respirando
seu veneno próximo às rochosas
esperando
o momento de flutuar no mar
- há
muitos quilômetros de ali -
onde
ficará, intacto, com a lembrança do curry
e
do maple syrup,
por
milhares de anos, quando talvez nem haverá Calgary
ou
skyways ou Stampede
mas
certamente permanecerá, latejando, uivando
a
fome daqueles que nunca puderam estar ali
sob
o cristal e o aço da food court
e
continuaram e continuarão engasgados
como
tartarugas entaladas com o plástico
que
a indiana, o afegão, o chinês, o redneck jogaram no lixo
E
eu me pego triste e sem apetite
a pensar
que
não
há possibilidade, além do sonho, de que todo o planeta
igualmente,
humanamente, deliciosamente
saboreie
essas texturas e riquezas
O
banquete é para poucos
num
mundo de limitados recursos e plástico descartável
A
bocarra voraz do capital em suas tetas
sorvendo
o leite do planeta à grandes goles.
Bilhões
de homens e mulheres poluem o planeta
com
sua esperança de homens e de mulheres descartáveis
como
plásticos
incomodando
o sono calmo dos que têm o que comer
com
o ronco de seus estômagos na vibração dos trovões sobre Icefield Road
anunciando
a nevasca
a
tormenta
a
violência eventual do Bow e seu irmão Elbow nos grandes degelos
e
que arrasta o indiano, o afegão, o redneck, o chinês e o capital
em
suas águas de esmeraldina palidez e extremo frio
no
fluxo trágico da história.
O
que amo em ti, eu sei, é projeção do que há de melhor em nós
a
gentileza e o respeito extremos
ocultos
em nós, expostos em ti.
Tua
silhueta espelhada encanta e cega, ó Calgary
e
apesar de toda a esperança fraturada
insistes
em berrar onward, onward, onward
mas,
te pergunto, pra onde?
Me
diz: pra onde?