sexta-feira, 24 de abril de 2020

Do caos no cosmo






















À placidez da água fria
do lago escuro ao pé da montanha,
o desespero das corredeiras que berram,
esperneiam, não ponderam, como
cavalos líquidos selvagens sobre pedras
batendo escandalosamente os seus cascos no limo-lodo.

Tal qual o horrendo, o terrível,
que habita o olhar do anjo que sorri
e que te fita, impassível,
enquanto corta delicadamente
a linha da tua vida.

Como fosse um vulcão pulsando
chama que respira sob a pradaria
no instante que antecede a explosão
que revela, sob a mansidão,
o inferno que habita o paraíso.

É assim a paixão dos tímidos e recalcados,
perigosamente pura,
dolorosamente controlada,
sempre à espera da fagulha,
do clique, do estalo, do momento exato
em que lhe mordem a jugular
daquilo que a fará romper a calma
manifestar-se formidavelmente
sendo inexplicável a muita gente
mas tão previsível aos que sangram em silêncio.