segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Sinal dos tempos (uma canção)

Enquanto a gente se enganava com sinais e roupa usada, havia um jeito, em nós, de pura fé
Na rua suja de São Paulo, um guerrilheiro sobre o asfalto sangrava em pura fé.
No nosso lado escuro, sem montanhas, você vê que é difícil realmente amanhecer
Portando os sonhos de anteontem, trajando o riso sobre a fome,
Pedindo o pé do louro pra comer

E o pássaro cantando sob a noite deste sol
Diz que jaz na sala o teu retrato
E o som do rock and roll
Tudo que nos resta, velhos sonhos, nada mais.

Eu vou morrer assassinado sob o sol do mundo errado ou sempre esteve escrito que é assim
O guarda à porta do meu quarto, a mão da morta no meu saco... um sonho ruim
Quem sabe eu cante no Dakota e diga enfim que a terra é nossa em alto, puro e pobre português
Quem vai negar que não tentamos, só por que nos enganamos,
Roupa usada serve pra aquecer.

E o pássaro cantando sob a noite deste sol
Diz que jaz na sala o teu retrato
E o som do rock and roll
Tudo que nos resta, velhos sonhos, nada mais.

Na noite sem estrelas, sem desejos, só pavor, você teme que eu te abrace e que haja sol
Por que toda certeza vem brotar no seu quintal, putrefata flor sem viço, Flor do mal.
Escuto alguém chorando lá no fim do corredor. Ninguém move um dedo para confortá-lo
Será que é tão difícil assim doar-se por amor ao estranho que te cerca ao caminhar.

E o pássaro cantando sob a noite deste sol
Diz que jaz na sala o teu retrato
E o som do rock and roll
Tudo que nos resta, velhos sonhos, nada mais.

Eu vejo a escuridão chegando lentamente aqui e os fascistas vêm marchando sem temor
Pisando em pobres, gays, mulheres, negros, travestis, putas, índios...
Vêm trazendo o seu terror.
O que mais me machuca é o silêncio do homem bom que se cala ante o mal que aí está
são tempos de descrença, desamparo e desamor, e eu te vejo tão tranquilo a bocejar.