sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Do homem


















Onde o homem bota a mão
Há beleza e podridão
Se é de humana gestação
Tens o gozo e a danação.

Onde encontro o humano tato
Tenho a flor e o chão queimado
Onde o engenho humano é dado
Vejo a cura e o abortado.

Besta e anjo, deus e caos
Segue o homem seu calvário
De ser céu e ser inferno
Sendo um que é sempre vários
De ser luz e escuridão
Ser certeza e ser engano
Monstruoso e angelical
Simplesmente ser humano





sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Dono de mim















Perdoa, amor, se não te trago flores
Nem perfume de raro olor
ou singularíssimos odores;
se não te mostro dentes brancos,
roupa de linho, mãos macias; perdoa
se não te toco como o hálito de um deus
ou se não rio o riso de um encantado.
Perdoa, amor, se não te ofereço conforto
consolo, aconchego, carinho e colo.
Perdoa se caos e não sossego,
se não tenho nada daquilo que esperas,
se não sou realmente aquilo que projetas,
se não estou propício a ser e ter o que te agrada,
pois sou dono de mim.

Perdoa, amor, se não tenho palavras raras,
se minha língua baba mais do que o devido,
se meu suor é mais visguento que o preciso,
se meus pés correm mais caminhos que os avisos
de não correr, de não suar e de não babar.
Perdoa, amor, se meus limites vão além do teu infinito,
se sou muito maior que o teu incabível,
se minhas asas te importunam, causam espirros,
se não posso nunca ser o que pensas que precisas
Perdoa, amor, por amares em mim o não tido,
por portar a nódoa, a marca, a mácula das ruas
e por trazer as mãos sujas do barro do real,
pois sou dono de mim.







terça-feira, 5 de agosto de 2014

Script

Se morre um menino
sob as patas do adulto triste,
o que existe,
além do dedo em riste?

O que resiste
é o inexorável destino que ainda insiste:
o adulto morto num menino que persiste.