segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Porto













Marc Chagall, Over the town (1918)


Ancora o teu barco numa nuvem,
na mansidão do branco
flutuando no azul
que - enquanto sangras - 
a quilha parte quando singra
o mar de prata, que o luar costura.

Protege tuas asas
do trágico mergulho
no asfalto mais escuro.
Absorve o sol
e absolva-se!

O vôo é impreciso
e mais que necessá
Nuvens são portos pelo céu,
cais de neblina onde atracar
teu coração em meio às tempestades.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

A canção do santo












Ele diz que vai chegar ao céu
Custe o que custar
Não nasceu pra caminhar ao léu
Nem ao deus dará
Ele diz que vai se iluminar
Quando a luz se for
E medita pra purificar-se
Sem tirar nem por

Acredita que tem uma missão
A de abençoar
Todo ser vivente sobre o chão
Sob o sol, no ar
Faz jejum e autoflagelação
Diz que vai voar
Ele diz que vai chegar ao céu
Custe o que custar

Vai um dia unir-se a Deus
Ser um dos anjinhos seus
flutuando sob um céu lilás
Ele treina pra dedéu
Come gafanhoto e mel
Crê que o seu destino é o céu em paz

Ele quer ser santo a todo custo
Dizem que ele é louco
Anda pelas ruas do subúrbio
Da Gamboa ao Porto
Tão sozinho, segue esse caminho
Busca a redenção
Tão imune ao próximo, ao carinho

Ao afeto irmão