Dizem que J.S.Bach era exímio
na
arte de assar bolos e pães
Um dom de Deus, afirmavam.
Um dom de Deus, afirmavam.
Meticuloso
como um alquimista
em seu laboratória de delícias:
em seu laboratória de delícias:
a
quantidade exata de fermento,
a
mão na massa, os olhos atentos
caprichoso
ao untar a forma com manteiga
e ao
juntar frutas secas e nozes na mistura.
O tempo exato para dourar a camada delicada
da iguaria e assá-la internamente.
Isso vinha de Deus!
Juram alguns que sua arte era muito apreciada
O tempo exato para dourar a camada delicada
da iguaria e assá-la internamente.
Isso vinha de Deus!
Juram alguns que sua arte era muito apreciada
pelos
filhos, netos, amigos em Weimar e Leipzig
que
a consumiam no Natal
na
Páscoa, aos domingos de ócio após o culto
e
prece e chás
e mesmo à noite, após o sexo luterano sem prazer.
e mesmo à noite, após o sexo luterano sem prazer.
Nas
horas vagas, sozinho
sentado
diante do velho cravo
enveredava por largos campos de demônios
enveredava por largos campos de demônios
e dedicava-se
a rabiscar notas musicais.
E isso vinha do Diabo.
Dizem
que J.S.Bach preferia o forno,
seu calor certeiro e controlado
seu calor certeiro e controlado
a
cozinha e o perfume dos bolos e dos pães,
à
árdua, áspera, tarefa de compor sonatas e concertos.
Entre
o temor sincero ao Deus de Lutero,
e a
criação da prole numerosa,
apenas
a intermitência do vício mundano
silencioso
e solitário
de registrar
na pauta,
como
frutas secas na
massa de um bolo abstrato,
as
notas bem temperadas
nas
claves de sol e fá e dó.
Pequenos
pontos e armaduras
que,
fermentados ao piano,
espargiam
um tipo raro de perfume
uma fuga ao divino modo de assar bolos e pães
e que apenas o nariz da alma podia captar
uma fuga ao divino modo de assar bolos e pães
e que apenas o nariz da alma podia captar
e o estômago
do espírito saborear.
Dizem que, ao morrer, J.S.Bach
aspirava o cheiro bom que vinha da cozinha
e isso era de Deus e era bom;
e com a mão, no ar, fazia gestos de quem regia
uma orquestra num grande concerto.
e isso vinha do Diabo, e era ainda melhor.
Dizem que, ao morrer, J.S.Bach
aspirava o cheiro bom que vinha da cozinha
e isso era de Deus e era bom;
e com a mão, no ar, fazia gestos de quem regia
uma orquestra num grande concerto.
e isso vinha do Diabo, e era ainda melhor.