Em
seu apartamento de Higienópolis,
Ferraz,
poeta sisudo e hermético,
tem grana,
fama e o amor das mulheres
- e
escreve mais um poema.
Ferraz
fala do seu coração
e do
coração alheio;
da
dor de ser homem, de ser mulher,
de
ser do meio, de não sê-lo,
de
Deus, do Diabo, da morte
do
desespero.
Ferraz
fala da luta de classes,
das
revoluções sonhadas pelos sem sorte
do olhar
da amada, do último consorte
do
cu do mundo
dos cus
e dos mundos.
Ferraz
fala das fomes dos homens,
da
injustiça e da revolta
inflama-se.
Batem
à porta, incomodando sua sisudez hermética
É o
entregador da Uber eats
que
nunca leu um poema, não sabe quem é Ferraz
não
pensou em revolução, mas tem medo da morte
e que
veio de bicicleta de um cu de mundo,
sob
a chuva fria de Higienópolis
trazer-lhe
o spaguetti ao sugo.