terça-feira, 10 de julho de 2018

Carpintaria














That Which I should Have Done I did not do (The Door)
Ivan Albright
1931/1941





Teclo em silêncio os berros
que a tela imprime em meus olhos
Nesse momento estou só.
Também em silêncio, as dores
que o computador desenha e expõe
à minha figura solitária.
Questão de modos, de medos
ou de moda, sabe-se lá onde residem
os desejos não satisfeitos...
Talvez num verso estragado,
numa canção sem refrão,
na descrição de um pássaro,
de um pasto, de prédio,
ou mesmo numa aquarela muito aguada
Quem sabe num longo parágrafo
de um romance nunca lido
escondam-se os desejos não gratificados?
Então não devo – nem vou - cobrar-me,
exigir de mim o berro que o silêncio imprime na tela
e a dor que, em silêncio, se faz pixel e se oferece
à minha solidão. Não.
Meu papel é berrar e doer
como todo poeta berra e se dói
em seus desejos insatisfeitos.


segunda-feira, 9 de julho de 2018

A borboleta, a casa e eu







Resistência, 2018
LAF



Borboleta não é A borboleta, nunca
será
Borboleta não voa, mas A borboleta sim
Voo nunca é O voo,
aquele apenas insinua
Borboleta não, A borboleta Sim
Borboleta tem asas, mas não As asas,
pois asas nunca serão As asas
aquelas apenas insinuam
e mesmo assim,
reticentemente,
nunca será A borboleta, nem terá As asas
São só palavras, borboleta, asa, voo
Nunca a coisa
Casa não tem O telhado
Casa tem telhado e nunca é A casa
Só A casa tem O telhado
Em A casa, temos A janela e A porta
Na casa, temos janela e porta
Mas só em A casa podemos entrar pela A Porta
E observar pela A Janela
O resto apenas insinua.
Do mesmo modo, Eu não sou Eu
Nunca serei nada além de insinuado.
No fim de tudo
Nenhuma palavra é absolutamente nada
mas é praticamente tudo
e com elas, as palavras,
eu apreendo a borboleta, o voo, a casa, a porta, a janela, o telhado, as asas e o mundo
mas EU nunca chego na Borboleta, no Voo, na Casa, Na Porta, no Telhado, nas Asas e no Mundo.
apenas insinuo
dizendo e desdizendo.