Para um casal em bodas
De
onde venho
a
luz, no fim do túnel, é pura escuridão.
A
vida, e sua substância de desespero, me aguarda
com
sua cintilante vigilância, vertigem e voragem.
As
pernas de minha mãe, abertas, me expulsaram, depois
de
escancararem-se em gozo para o corpo lânguido do meu pai.
De
onde venho
calor
e lubricidade são meras lembranças
daquele
tempo em que eu não era e que, por não ser, não cogitava
a
faca, a foice, a clava, o coice, o martelo, o capital, a mercadoria
a
bruta labuta insensível do dia-a-dia
Era
apenas possibilidade
De
onde venho?
Da
sanha e saga da catinga repousando no cerrado
fugindo
de casa, trilhando o mundo abrasador de cinzas, não preás
os
pés sujos com a poeira dos caminhos
Pai
e mãe e seus meninos,
tão
meninos quanto eu
tão
perdidos quanto eu
tão
frágeis quanto eu
tão
filhos quanto eu.
De
onde venho, amigo
não
há espaço para ter medo
não
há perdão para quem vacila
nem
segunda chance para quem escorrega
o
tombo é certo
certas
as feridas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário