quinta-feira, 28 de junho de 2018

Diamantes



            










 Para um casal em bodas




De onde venho
a luz, no fim do túnel, é pura escuridão.
A vida, e sua substância de desespero, me aguarda
com sua cintilante vigilância, vertigem e voragem.
As pernas de minha mãe, abertas, me expulsaram, depois
de escancararem-se em gozo para o corpo lânguido do meu pai.

De onde venho
calor e lubricidade são meras lembranças
daquele tempo em que eu não era e que, por não ser, não cogitava
a faca, a foice, a clava, o coice, o martelo, o capital, a mercadoria
a bruta labuta insensível do dia-a-dia
Era apenas possibilidade

De onde venho?
Da sanha e saga da catinga repousando no cerrado
fugindo de casa, trilhando o mundo abrasador de cinzas, não preás
os pés sujos com a poeira dos caminhos
Pai e mãe e seus meninos,
tão meninos quanto eu
tão perdidos quanto eu
tão frágeis quanto eu
tão filhos quanto eu.

De onde venho, amigo
não há espaço para ter medo
não há perdão para quem vacila
nem segunda chance para quem escorrega
o tombo é certo
certas as feridas.

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