A embriaguez de Noé, Michelangelo, Capela Sistina
Matei meu pai a dentadas
comi-o,
provei da raiz de minha árvore
sepultei-o, sob obturações gastas, em minh’alma cariada
mato-o a
cada parco e porco dia que perco
conspurco-o para sobreviver e ser
silencio sua boca, escuto seus gritos
mordo sua língua, saboreio seu desejo
silencio sua boca, escuto seus gritos
mordo sua língua, saboreio seu desejo
selo seus
ouvidos e arranco seus olhos
para enxergar melhor
para enxergar melhor
cumpro o
meu papel de caminhante
traço o meu
caminho em seu cadáver
estendido
no varal que armo em meu quintal
quem de
vocês não trás às costas esse morto-vivo?
quem, de
nós que nunca nos saberemos,
não exerceu o ofício de coveiro e de obstetra a cada manhã?
não exerceu o ofício de coveiro e de obstetra a cada manhã?
sinto sua
crença em minha descrença
sua coragem
em meu medo
e seu pavor
nos meus passos.
O poeta iconoclasta, relembro Acroamático.
ResponderExcluir