quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Pesadelo


    














Sem título, Leo Almeida, 2018


para uma faca

Não retirem as crianças da sala, deixem-nas,
é preciso que vejam o dedo em riste do Coiso,
é preciso que se mordam, se rasguem, que sangrem devagar,
pois o sacrifício infante do futuro faz parte do ritual da ascensão do Coiso
Na sala, diante da tv, a família de bem, branca e cristã,
reza pela saúde do Coiso e pela morte de negros bandidos,
pela eliminação de lascivos e preguiçosos quilombolas,
pela erradicação da epidemia de veados no país
pela colocação da mulher em seu devido lugar
como prometeu o Coiso que fará.
E será na pancada que o macho vingará e tornar-se-á cidadão do bem,
bom cristão com o cu íntegro e a alma avariada.
Na bala, garantirão um país do atraso, um talibanato tupiniquim
pela honra e glória de um Jesus Cristo hegemônico e envergonhado.
Em cada escola, a foto de heróis que matam cidadãos amarrados,
de heróis que torturam operários, estudantes, profissionais liberais
e talvez, então, seja feriado na data de nascimento do grande torturador
ídolo do Coiso e de uma legião de animais que babam seu ódio
sobre nossas cabeças abaixadas e covardes.
E então, quando o país mergulhar na escuridão,
e nossos jardins estiverem arrasados,
poderemos chorar pelos cantos, escondidos,
- homem que é homem não chora –
de tristeza e arrependimento,
e ninguém vai ver.

3 comentários:

  1. Poesia nua e crua, com a acidez que o tempo exige. Léo Almeida me representa

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  2. Que doença é essa que acomete boa parcela da população brasileira e do mundo? Será que tem cura? Assustador o momento ...tomara que não demore passar juntamente com todos esses coisos

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