Anjos, LAF (nanquim)
Aos poetas mortos
Sim, os poetas morrem
apodrecem, cheiram mal, decompõem-se
exatamente como os fascistas
e as virgens que envelheceram sem maldade.
Vão-se nas dores de um infarto,
na agonia de pulmões contaminados,
na febre noturna dos desvalidos,
no sangue pútrido sobre o asfalto
na solidão das UTIs
nos porões, nos quartos cor de rosa.
Não se iluda, os poetas, como os fascistas,
perecem e dissolvem-se na terra, feito adubo,
adormecendo com as raízes;
tornam-se cinzas nos fornos
túmulo de todas as fênix;
abrigam larvas e vermes
tornam-se carniças.
Impossível negar, os poetas, como os fascistas
e as virgens que envelheceram sem maldade
findam-se um dia, inevitavelmente,
passam, mesmo sendo passarinhos
a morte os iguala insensivelmente.
Então, o que nos sobra?
Versos, versos e versos
que valem a própria existência;
crueldade, ignorância e desprezo,
que nos impelem à luta implacável
e sem perdão.
A vida inteira que nos cabe e nos abraça,
depois que se vão os poetas,
os fascistas e as virgens que envelheceram sem maldade,
justifica-se pela arte, pela luta e pelo desejo.
Belíssimo poema!
ResponderExcluirGostei das repetições que reforçam a ideia de igualdade na matéria que morre mas de sutil diferença nas orações.
ResponderExcluirLindo poema, meu querido amigo!
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