segunda-feira, 14 de setembro de 2020

A fossa

 



 

        Sobre um poema da Adriane Garcia

        Aos meus amigos poetas

 

Não se atreva a salvar um poeta

é no afogamento que eles respiram

vivem no mergulho mais profundo

onde a poesia encandeia

seus olhos frios

de peixes acostumados às fossas.

 

Não toque neles

retirá-los, à força, da água,

por melhor que sejam seus motivos,

é determinar a sua morte

e o fim da poesia.

 

Um poeta em conforto

é criatura inerme

porco-espinho nu

serpente sem presas

tigre sem garras.

 

Deixai, portanto que eles se afoguem

a cada braçada em direção ao abismo

num lugar que nunca apreenderemos

e tragam a luz de seus versos para nossa escuridão.

 

Só os poetas percebem

a lenta agonia

que sofremos

sem nos darmos conta

que morremos

como peixes sobre a terra

Um comentário:

  1. Nossa! Hoje mesmo fiz um poema sobre a criação de um peixe, metaforicamente falando... Eu sigo a Adriane Garcia no Facebook... Gostei do poema também.

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