quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Geografia do corpo

Geografia do corpo

                                                                                   Sem título - Siron Franco
  
                                 
São tantos e tontos os mundos
no corpo de um só sujeito
que não tem modo, nem jeito
de eu não lhe perguntar:
quem descobriu sua ilha,
sua foz, seu continente?
quem bebeu, em sua nascente,
o líquido mais sagrado?
cada encontrado acidente,
cada vivido deserto.
todo rio, cada poente,
cada floresta intocada
em torno do seu umbigo.

são tantos os cantos do mundo
e tantos os mundos cantados
na geografia de um só sujeito
que não tem modo, nem jeito
de meu poema não cantar
quem se apossou dos seus sonhos?
quem descobriu seus desejos?
quem demarcou seus limites?
quem explorou os seus medos?

eu navego há tantos anos
que não guardo mais segredos
cada porto em mim se abre
cada nau em mim soçobra
e os resquícios dos naufrágios
vêm bater em minha porta
os baús todos lacrados
flutuando em minha pele
oceano-tez marcado
pelo tempo, intempéries
sou assim um mundo inteiro
de fragatas, quilhas, velas
todas elas navegando
e meu corpo é todas elas

somos todos tantos mundos
muitos deles não trillhados
esperando um terra-à-vista
e o assentamento de um marco
que não tem modo, nem jeito
de meu canto terminar
no fim de cada sujeito
há um outro mundo inteiro
e outro mundo e outro jeito
de a gente navegar.



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