Geografia
do corpo
São tantos e tontos os mundos
no
corpo de um só sujeito
que
não tem modo, nem jeito
de eu
não lhe perguntar:
quem
descobriu sua ilha,
sua
foz, seu continente?
quem
bebeu, em sua nascente,
o
líquido mais sagrado?
cada
encontrado acidente,
cada
vivido deserto.
todo
rio, cada poente,
cada
floresta intocada
em
torno do seu umbigo.
são
tantos os cantos do mundo
e
tantos os mundos cantados
na
geografia de um só sujeito
que
não tem modo, nem jeito
de meu
poema não cantar
quem
se apossou dos seus sonhos?
quem
descobriu seus desejos?
quem
demarcou seus limites?
quem
explorou os seus medos?
eu
navego há tantos anos
que
não guardo mais segredos
cada
porto em mim se abre
cada
nau em mim soçobra
e os
resquícios dos naufrágios
vêm
bater em minha porta
os
baús todos lacrados
flutuando
em minha pele
oceano-tez
marcado
pelo
tempo, intempéries
sou
assim um mundo inteiro
de
fragatas, quilhas, velas
todas
elas navegando
e meu
corpo é todas elas
somos
todos tantos mundos
muitos
deles não trillhados
esperando
um terra-à-vista
e o
assentamento de um marco
que
não tem modo, nem jeito
de meu
canto terminar
no fim
de cada sujeito
há um
outro mundo inteiro
e
outro mundo e outro jeito
de a
gente navegar.
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