sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A matéria do poema



                                                         Kandinski, Composition VI, 1913


Não se engane
um poema, pra ser poema,
tem que sangrar sem sangue
chorar sequinho, sorrir sem dentes
por que a poesia não é corpo
- pétala ou partícula de nada -
é um não-ser sendo, inexplicado
poema não é coração, nem veias
é pulso e batimentos
embora do corpo
- e do corpo com outros corpos -
o poema não é carne, nem tendão
é vento sem tato, imaginação
só sendo nada é que ele é tudo
como o mito
e é poema
tem que arder sem fogo,
doer com uma dor
que não se sabe de onde vem
nem por que dói
o poema é um aneurisma da alma
se alma houver
amputação da beleza do mistério
o insondável...







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