O Desejo (Dos provérbios da carne)
O desejo é algo assim como as saúvas
que vêm numa marcha sempre certa
pelo jardim antes
tranqüilo
marchando,
marcando o tempo
sob uma noite escura e sem testemunhas
num tiquetaquear de minúsculas patas
barulhentas, decididas.
O desejo é algo assim como as saúvas
que, famintas, sempre vêm
e passam, como a morte ,
uma-a-uma
e sobem o tronco estático , uma-a-uma
e cortam suas folhas, sem perdão , uma-a-uma
e vão-se, enfim, uma-a-uma
a outros verdes
troncos,
torná-los nada e nulos
corroendo, corroendo, corroendo
e eu, torto tronco triste
e lembro, uma a uma, as dores do corte das saúvas
e perco, pelos dias , um a um , os meus pedaços .
Nos dentes: https://soundcloud.com/l-o-almeida/o-desejo-dos-proverbios-da
Bonito, Leo, muito bonito. Saúvas não erram a pontaria... e são insaciáveis.
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