segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Para um amigo que se foi...

Para Paco Cac, ausente

                      Não há paz na página
                                                  Paco Cac

Não há lamento que persista na barba do tempo
tudo se dissolve nos segundos
mesmo a dor, e seu imundo sentimento,
se vai nas estações se sucedendo,
perdendo-se no olvido mais profundo
Das eras, nosso sonho é o excremento
que deixa seu odor em nossa história
Nada, absolutamente nada será sempre
seremos simplesmente nada pós-saudade
Disseram que você conseguiu finalmente
a viagem, a passagem, o sono, a voragem
conseguiu ser seu dono e seu carrasco
Disseram que se foi tão só quanto chegamos
e  que seu sorriso não mastiga mais nossos olhares
que seu olhar não mais nos vê sorrir de volta
Eu sinto o calafrio da ausência ainda presente
a poesia manchada em sangue frio e triste
e a falta dos projetos sempre em pauta.
Um dia, alguém vai comentar sobre os seus versos
ou sobre o seu instável estado - que era o seu estilo
e, assim como Bandeira, vou sorrir pensando em ti
no seu sorriso largo que não mais mastiga o vento
no seu olhar-imagem que se perde em meus neurônios
na tua vida, enfim, que agora é só lembrança.


4 comentários:

  1. Que comovente, Leo! Não resisti. "Não há lamento que persista na barba do tempo
    tudo se dissolve nos segundos
    mesmo a dor, e seu imundo sentimento,
    se vai nas estações se sucedendo," É isso, e somente isso.

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  2. A dor de uma perda é farpa aguda sob a unha esgarçada da memória. Um abraço, poeta. Bela homenagem.

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