terça-feira, 15 de julho de 2014

Dos desertos








Dedicado a um poeta em depressão


Os poetas são animais em extinção
Tombam como sibipirunas e jacarandás
Rarefeitos como ar puro
Vão-se feito ararinhas azuis... minguando.
Os bons versos são mico-leões dourados
Carecem de que se lhes dêem o valor de sua raridade
Somem-se em vez de somarem-se
E nisso vai-se também nossa alma apaixonada.
È preciso preservar os ipês e os poetas
As Baleias e os versos
A ética e o tigre albino de Pequim.
É necessário proteger a mata atlântica
E resgatar os bons sonetos
Pois se morremos com rios poluídos
Tornamo-nos tristes sem a poesia
Bestas ficamos sem arte e sem ar
Sem magia, sem estranhamento, sem ritmo
Sem pulso, sem penas, sem escamas, sem rimas
Sem vôo, sem delírio, sem mergulho, sem bicos
Sem lábios, sem garras, sem fibras, sem vida.
Temos mata, rio e bicho em nossa alma
E se matamo-los fora de nós
Morremo-nos também inteiramente
Sobrando-nos a assustadora possibilidade
De rimarmos o deserto ante nossos olhos
Com o deserto de nosso espírito.


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