Nu, LAF, 2018
para M.
Ah, se a luz rasgasse a escuridão
e iluminasse cada canto, antro, cova
cada cave, greta e grota
toda senda, fenda e fresta
toda escura e funda voçoroca
Ah, se a luz entrasse sem pedir licença
em todos os buracos e becos
sótãos, porões e quartos
nos quintos dos infernos de nós mesmos.
Mas não...
A luz só quer brilhar na superfície
onde existem máscaras, dentes brancos
sorrisos botulínicos e mãozinhas de seda
beijinhos intocáveis, olhares ensaiados
versinhos bem rimados, inofensivos
A luz só quer luzir onde não importa
onde ninguém arrota, peida ou palita os dentes
e todos estamos bem alimentados
papai, mamãe, filhinho na missa e no culto
sob a luz mais brilhante e fria
onde pulsam as terríveis pulsões
que se escondem na escuridão
dos cantos, antros, covas, caves, gretas, grotas
sendas, fendas, frestas,
fundas voçorocas
buracos e becos, sótãos, porões e quartos
e quintos dos infernos de nós mesmos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário