sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Do meu desejo












Paisagem, 2018, LAF



Sabe, velho, cansei de falar de mim
Partes de antigos sonhos não me cabem mais
Forçaram a pele, romperam-na, fissuras enormes
expandiram-se como supernova, ganharam
terreno, derrubaram muros, cercas
invadiram territórios que não me pertenciam
ciscaram na grama do vizinho,
mas não quero falar disso, chega de mim!
Vamos falar da vontade de beijar na boca
de chupar lábios vermelho-sangue
de correr para o abraço sempre quente do amor
e deixar-se enovelar, deliciosamente
como presa de uma teia de aranha
sofregamente encasulado, sendo
sugado, das entranhas retirado
o tutano, a medula, o cerne, a essência
daquilo que me faz eu e que eu não quero
falar de mim neste momento, prefiro
falar de revoluções e épicas batalhas
de vitórias tremendas e derrotas homéricas
de sóis explodindo, planetas mortos
civilizações extintas, grandes bestas fossilizadas
e adjetivos gigantescos, do tamanho do
meu desejo, do meu desejo, do meu desejo.


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