Para Ferreira Gullar
Que será do vento sem as velas enfunadas
e os cabelos soltos de Anna Beatriz?
Que será da coisa sem o homem
do objeto sem magia e misticismo
da estátua de São Judas Tadeu sem nossa fé
do touro de bronze em Wall Street sem nossa ambição?
Que será do sol sem minha pele ardendo
do ar sem pulmões para entranhar
da água sem as quilhas para feri-la
sem os corpos para penetrá-la
sem as sereias para sonhá-las?
Que é do mundo sem o humano
sem a mão do homem sobre o barro
que é de Deus sem nossas preces
e nosso temor?
Que será das cruzes sem os crucificados?
Que será da lua sem os delírios
senão a força invisível das marés para ninguém?
Nada, nada, um grande nada existe em nossa inexistência
O que se passa numa estrada sem viventes?
talvez o som de pegadas sem donos no oco do silêncio
e a invenção de um homem caminhando lentamente
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