sexta-feira, 16 de maio de 2014

A lua

Oh, solidões contempladas
Ainda estarás flutuando
Quando eu for nada
Balão de prata na mais profunda escuridão
E outros olhos estarão fisgados
pela tua eterna pescaria de olhares, uivos  e suspiros
Colados em ti os olhos dos meus netos
Dos netos dos meus bisnetos
Dos tataranetos de meus tataranetos
Como estiveram os meus em tua silhueta
Encantados nas noites claras em que te exibistes
Ah, lua! Espelho de nossos mistérios
Projeção de nossa melancolia


Oh, solidões contempladas
Olhos cro-magnons colaram em ti
Olhos Neandertais colaram em ti
Olhos Tupis de muitos séculos colaram em ti
Aztecas e incas e maias colaram seus olhos em ti
Exatamente como o fazem hoje os meus
Da minha sala, enquanto escrevo este poema.
Antigos olhos nas savanas africanas te admiraram
Padres na medieva Notre Dame olharam para ti
Criminosos, pelas grades, te admiraram
Outros desconhecidos olhos pelo mundo te adoraram
Como os olhos de meu filho que te fotografam.
Insensível tu circulas nosso espanto
Adolf Hitler e Madre Teresa colaram seus olhares em ti
Kennedys e Mao Tse Tung colaram seus olhos em ti
Mozart e Flaubert colaram seus olhos em ti
E em milênios haverá outros olhares ainda encantados
Acompanhando teu trajeto pelo céu
- Mais poluído, menos ingênuo -
Observando teu passeio matemático.
Quando eu for nada tu ainda estarás brilhando
Teu brilho morto e frio e misterioso
e talvez alguns olhos estejam colados nestes versos.





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