quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Seu nome













Não ouso dizer seu nome
- Não posso, não devo -
não virá enfeitar meus lábios
nem banhar-se em saliva
deslizando por minha língua impura
seu nome, não
e no entanto trago-o no peito
desfraldado em códigos que
só eu conheço
em uivo antigo de demônios
qual sussurros de morcegos
num sufocado grito rouco
no aconchego lânguido do leito

Mas ouso escrever seu nome
- Eu quero, desejo -
na silente criptografia dos anjos
inscrita na pele, na palma da mão
(como estigma)
a sagrada cartografia
onde, encontrando-te, me perco
Seu nome, sim
e por isso trago-o no peito
tatuado em meu mamilo
como animal que encilho
com as cilhas dos meus pelos
e saio cavalgando
no mais manso desespero.

Nenhum comentário:

Postar um comentário