O desejo II (Dos provérbios da
carne)
Fosse chama e não cheiro
evolando-se do chão sem viço
construindo arestas nas narinas
rasgando, roçando, fresta em
festa
infenso a infausta sorte
e então o sol, por sobre os
sonhos,
viria à noite, intruso não oculto
sacudir os meus lençóis molhados
o visgo, o tato, o deslizar em
gozo
ardendo em equinócios
desconhecidos.
Ah, a aspereza da seda!
Antes, o silêncio sobre o desejo
a mudez do falo e das
reentrâncias
quase uma língua de anjos
trombetas num céu de surdo-mudos
querubins enrodilhados em pecado
e lá, no fundo da tela, o azul
profundo
o mais profundo dos azuis
celestes
azul azul, daqueles de presépio e
uniforme escolar
sustentando os raios desse sol
intruso
que insiste em arder na minha
pele
durante a noite, quando queimo,
enquanto durmo.
Ah, a maciez dos arames farpados!
Nos dentes: https://soundcloud.com/l-o-almeida/o-desejo-ii
Coisa bonita meu amigo. Que a pele fale.
ResponderExcluirsensibilidade leveza desejo intensidade
ResponderExcluir"a maciez dos arames farpados"
ResponderExcluirque bela construção para retratar, magistralmente, a doçura da dor do desejo...