terça-feira, 26 de novembro de 2013

O Leme da poesia



O Leme da poesia

Let me put it baldly. The two halves are:
the HEAD, by way of the EAR, to the SYLLABLE
the HEART, by way of the BREATH, to the LINE
                             Charles Olson, Projective verse

 Para um amigo declamando




saturnal anel de névoa em tua face morta-viva
girando, girândola, girassol pálido sem caule
sem folha, cor, sem formosura, flor impura
ensimesmado rasgaturra dos plisseis, prossigo
teu sótão, teu telhado, tua tessitura
teu verbimor de ébano plissado em cromatura
de pau rosa marchetado, sangue impuro
gira-girando pomba-gira em escarlate aurora vaginal
ainda há chuva no aterro lambecáspido do Flamengo
nos dias onde andei no carro Bishop
sobre os caminhos ciclotímicos de Lota
pensando em gomesgomesgomesfreire
Ah, décadas que se vão sob atentados, Lafcadio
não-culpados espalhados vorbisonos,
e os aterros da memória soluçando
murmuriando o sono tormentoso dos amantes
e eu sonhando uma película ancestral
no lado escuro da lua, no leme sem fim de copacabana
na poeira da estrada vazia, um cão perdido
uma grade, uma escada, num giro, em espiral
uma ave sem controle algum das asas
uma árvore sem raiz alguma ao chão
um galinheiro e seus habitantes
uma velha numa cadeira de balanço, tricotando um aceno
uma vaca
dois homens num barco
a bruxa na bicicleta
a bruxa na vassoura
a casa girando e caindo
e o sonho chegando
e a poesia aguardada
e eu a aguardar-te
e o Jaguardarte a tudo consumindo
num saturnal anel de névoa em tua face morta-viva
girando, girando, girando, girando, girando, girando...










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