O Leme da poesia
Let me put it baldly. The two halves are:
the HEAD, by way of the EAR, to the SYLLABLE
the HEART, by way of the BREATH, to the LINE
Charles Olson, Projective verse
Para um amigo declamando
saturnal anel de névoa em tua
face morta-viva
girando, girândola, girassol
pálido sem caule
sem folha, cor, sem formosura,
flor impura
ensimesmado rasgaturra dos
plisseis, prossigo
teu sótão, teu telhado, tua
tessitura
teu verbimor de ébano plissado em
cromatura
de pau rosa marchetado, sangue
impuro
gira-girando pomba-gira em
escarlate aurora vaginal
ainda há chuva no aterro
lambecáspido do Flamengo
nos dias onde andei no carro
Bishop
sobre os caminhos ciclotímicos de
Lota
pensando em gomesgomesgomesfreire
Ah, décadas que se vão sob
atentados, Lafcadio
não-culpados espalhados
vorbisonos,
e os aterros da memória soluçando
murmuriando o sono tormentoso dos
amantes
e eu sonhando uma película
ancestral
no lado escuro da lua, no leme
sem fim de copacabana
na poeira da estrada vazia, um
cão perdido
uma grade, uma escada, num giro,
em espiral
uma ave sem controle algum das
asas
uma árvore sem raiz alguma ao
chão
um galinheiro e seus habitantes
uma velha numa cadeira de
balanço, tricotando um aceno
uma vaca
dois homens num barco
a bruxa na bicicleta
a bruxa na vassoura
a casa girando e caindo
e o sonho chegando
e a poesia aguardada
e eu a aguardar-te
e o Jaguardarte a tudo consumindo
num saturnal anel de névoa em tua
face morta-viva
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