Receita de poesia
Não viro lodo no crepúsculo
longe de mim a lama, o limo
lavo-me, louvo-me e levo-me aos versos
de cara limpa e alma contaminada: sou poeta!
Não tenho tardes purulentas de sol
nem chovo ou me horizonto
sim, serpenteio a superfície
sibilando meu veneno
sibilando meu veneno
sou rasteiro, do mato, mito
meu verso sempre sou eu.
Não, não! Nunca orvalhei
nem fui vento na asa
do pássaro que farfalha
do pássaro que farfalha
e que se torna planta, fruto e raiz
não sou pé de sabiá, nem goiaba-juriti
ninho de nuvem entretecido
folha de tuiuiú na nervura
da poesia lugar-incomum
da poesia lugar-incomum
não sou modinha pracademia
meu verso sempre estou eu
Minha poesia não joga
o jogo do jugo jaguadarte
ou joga, quando quer, e se joga
nessa arte sem querer só ser
e ser só
é poesia de muito verbo
como a vida conjugada
na boca inexistente de um Deus
viver talvez seja um deus fazendo poesia
meu verso é pura epifania
Faço versos como quem vive
sem reza, incenso ou mirra
e não creio em serventia
em matéria alguma, nada me serve
mas tudo me absorve e me suporta
sou poeta!
A vida me absolve
de barro algum me faço esteta
de meu próprio traço e estilo
de meu próprio traço e estilo
meu verso é ócio, é vício e cio
sou da súcia dos ferozes.
Quem manda nesta porra
Quem manda nesta porra
ainda Estou eu
que Sou
poeta!
Nos dentes:
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