domingo, 17 de novembro de 2013

Receita de poesia

Receita de poesia






Não viro lodo no crepúsculo
longe de mim a lama, o limo
lavo-me, louvo-me e levo-me aos versos
de cara limpa e alma contaminada: sou poeta! 

Não tenho tardes purulentas de sol 
nem chovo ou me horizonto
sim, serpenteio a superfície
sibilando meu veneno
sou rasteiro, do mato, mito
meu verso sempre sou eu.

Não, não! Nunca orvalhei
nem fui vento na asa
do pássaro que farfalha
e que se torna planta, fruto e raiz
não sou pé de sabiá, nem goiaba-juriti
ninho de nuvem entretecido 
folha de tuiuiú na nervura
da poesia lugar-incomum
não sou modinha pracademia
meu verso sempre estou eu

Minha poesia não joga
o jogo do jugo jaguadarte
ou joga, quando quer, e se joga
nessa arte sem querer só ser
e ser só
é poesia de muito verbo
como a vida conjugada
na boca inexistente de um Deus
viver talvez seja um deus fazendo poesia
meu verso é pura epifania

Faço versos como quem vive
sem reza, incenso ou mirra
e não creio em serventia
em matéria alguma, nada me serve
mas tudo me absorve e me suporta
sou poeta! 
A vida me absolve
de barro algum me faço esteta
de meu próprio traço e estilo
meu verso é ócio, é vício e cio
sou da súcia dos ferozes.

Quem manda nesta porra
ainda Estou eu
que Sou
poeta!


Nos dentes:



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