quinta-feira, 12 de junho de 2014

Pajelança












Sou luz na aquarela
o brilho que se releva
revela-se na palidez de um tom pastel
Sou só, num mar de plena e densa solidão
meu navegar é lento
como o desfilar do vento
quisera sê-lo pleno
e vaguear o mundo
e penetrar o incenso
de outros cheiros e narizes
e dançar na relva sem receio
mergulhar no abismo sem ter medo
arriscar amar sem meios termos
Ah, como dói querer
e seguir sendo um poço de desejos.

Se pudesse, ah, se eu pudesse
certamente tornaria ao gran canal
como num filme antigo
e sentiria na pele o calor de outras línguas
mas sou apenas a luz de uma aquarela
o esquecido brilho de uma cor morta
e sigo só na doce experiência de estar vivo
saboreando quase todas as frutas
fumando quase todos os fumos
comendo quase todas as delícias
sorvendo quase todas as bebidas
quase todos os caminhos
quase todos os poemas
quase, sempre um quase
o quase de um quase
a me dizer que viver é mesmo um enorme quase
pois todo todo é um tédio absoluto
e assim sigo quase-vivo
quase-vivendo
quase-morto
um quase.


30 jun 2010


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