segunda-feira, 2 de junho de 2014

Quatro cantos de amor - Canto II







Minha pomba, oculta nas fendas do rochedo, e nos abrigos das rochas escarpadas, mostra-me o teu rosto, faze-me ouvir a tua voz. Tua voz é tão doce, e delicado teu rosto!
                                                             Cântico dos cânticos, 2






Reconheço o teu cansaço, é meu também
Preenche cada espaço que me resta
Vem, descansa em mim seu corpo inteiro
Os fortes braços meus te enlaçarão
Como envolve o teu a cada movimento
As fibras todas do meu coração
Como cada um dos meus frágeis pulmões
Carece da vazão de teu oxigênio
Pousa, pois, a tua barba em meus mamilos
E deita entre minhas pernas a tua mão
Percorre minhas brechas, gretas, brenhas
Perscruta, como um lavrador, um campo virgem
E como um caçador a mata estuda
E sobre mim, tua mata e campo demarcados
Retesa o teu arco e deita o teu arado
Que eu, flor viril, te darei cheiro, caule e pétala
E tu, meu jardineiro, cuidarás de cada florescência
Alimentando minhas raízes escondidas
Com a seiva rara e rica de teu tronco.
E no fim, fera abatida por tua seta
Serei com prazer também teu alimento
o meu destino nos teus dentes transcendendo.




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